Na década de 1970, havia uma loja na Rua dos Pinheiros, em São Paulo, que vendia artigos para canhotos. Lembro que a loja existiu por pouco mais de um ano. Não sei o nome dela loja e nem quais eram os produtos que ela vendia. Só fui ver outra loja assim recentemente em Orlando – a Lefty’s, em Downtown Disney. O mercado parece ser bem promissor. Cerca de 10% da população mundial é canhota e sofre para cumprir tarefas simples, como recortar uma folha de papel ou abrir uma lata.
Foi observando uma ex-namorada descascar – ou pelo menos tentar – uma laranja que o catarinense Ricardo Michels Silva, 27 anos, entendeu o martírio de uma canhota. “Vi o sufoco que ela passou e o quanto ela reclamava”, lembra Ricardo. Por coincidência, alguns dias depois, ele assistia ao episódio “Quando Flanders Falha” (Número 38 da 3º temporada), da série Os Simpsons, quando teve um estalo.
“Ned Flanders, vizinho de Homer, tinha uma loja de produtos para canhotos”, conta. “Resolvi pesquisar para ver se se existia alguma coisa parecida no Brasil”. Ricardo achou apenas duas lojas nos Estados Unidos e uma na Europa. O namoro acabou, mas, em fevereiro de 2015, ele abriu a No Destro – Produtos para Canhotos, a primeira loja virtual para canhotos do Brasil.
Ricardo é formado em Matemática pelo Instituto Federal Catarinense e gerencia o site sozinho. “Além de juntar o dinheiro para investir na loja, tive a maior dificuldade para encontrar os produtos”, conta. “Decidi focar, num primeiro momento, nos itens escolares e de alguns acessórios de cozinha, como abridor de latas.” Alguns objetos foram desenvolvidos por Ricardo, casos da régua, do caderno e da caneca.
Os produtos à venda na No Destro por enquanto são canetas (R$15,29 a R$ 39,89), réguas (R$2,49), abridor de latas (R$22,89), canecas (R$39,89), livros (R$24,99), cadernos (R$29,89), kits escolares (R$67,89), estiletes (R$10,69) e tesouras (R$31,29 a R$39-89). As tesouras são as campeãs de vendas disparado.
“Essa iniciativa é ótima!”, comemora a canhota Ana Paula Pigatto Alegre, 42 anos, professora de Língua Inglesa, Português e Redação. “Adoro ser canhota, me sinto diferente das outras pessoas, um tipo especial”, afirma. “Mas sofri muito na minha infância, na década de 70, quando muitas escolas forçavam a criança canhota a escrever com a mão direita” A relação de amor e ódio da professora com a condição de canhota começou cedo. “Tive que me adaptar em cadeiras para destros, sempre toda torta e com a folha praticamente de ponta-cabeça”.
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