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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

“Violência física nem sempre é o que mais dói”, diz intérprete de Jesus em “A Bíblia”

Para interpretar Jesus Cristo na série “A Bíblia”, o ator português Diogo Morgado pesquisou na Bíblia, em livros, filmes e até em pinturas, tudo o que pudesse ajudá-lo a compor o personagem da série que estreia nesta quarta-feira (16), na Record.
Cristão, o ator português conta que o trabalho o ajudou a refletir mais sobre a religião, e um de seus objetivos no trabalho, foi criar um Jesus “menos inatingível, mais humano”. Questionado sobre as cenas de violência, falou que “violência física nem sempre é o que mais dói”, e que o importante é a mensagem que “Ele deixou para o mundo”
Leia abaixo a entrevista completa com Diogo Morgado:
UOL: Primeiramente gostaria de saber se você é cristão praticante e como foi para você interpretar esse papel?

Diogo Morgado: Sim, sou cristão e aprendi com este trabalho da Biblia que, a meu ver, há uma forma errada de encarar a religião, como se fosse uma coisa clubística de torcida de time de futebol ou de partido politico. A religião, ou a nossa crença, ou fé, é uma coisa muito pessoal, que nos motiva no dia a dia. Cada um busca o caminho do seu equilíbrio emocional e espiritual, e essa é uma jornada que ninguém pode opinar ou fazer por nós.

Como ser original ao interpretar um personagem que já foi interpretado por diversos atores ao longo da história da TV e do cinema?

É talvez a coisa mais complicada num trabalho como este. Para mim foi sem dúvida o maior desafio que tive pela frente neste projeto. A verdade é que pesquisei bastante e procurei ver tudo onde entrasse a figura de Jesus e procurar os pontos comuns, e em seguida tentar uma coisa menos vista. Foi aí que procurei ir pelo caminho de tornar a figura menos inatingível, mais humana. Jesus era 100% filho de Deus, mas também estava numa condição 100% humana, com todas as suas caracteristicas e condições. Foi fascinante para mim trabalhar de que forma esta figura seria magnética por onde quer que passasse. Não só por aquilo que dizia, mas pela forma como agia com quem o rodeava.

Um dos filmes mais fortes sobre essa história foi “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, por mostrar cenas bastante realistas e chocantes. Como você foi dirigido nesse aspecto? Houve uma tentativa de não chocar tanto o telespectador?

Houve desde sempre uma opinião unânime em toda a equipe, a de que a violência física nem sempre é a que mais doí. Por isso mesmo procuramos ir pela relação daquelas figuras e do marco do momento em si, mais do que explorar a violência gráfica da sequência.

Qual foi sua fonte de pesquisa? Apenas a Bíblia?

Não só a Biblia, mas tudo o que tivesse a ver com a Biblia e mais especificamente Jesus. Quer fossem livros ou filmes, e até pinturas.

Por que você acha que ainda hoje as histórias bíblicas são tão populares no mundo? Aqui no Brasil, atualmente, a Record, que vai exibir a série, também tem a história de José no ar com bons níveis de audiência.

Acho que a razão é principalmente porque são histórias que nos falam das mesmas questões, ansiedades e necessidades que todos nós atravessamos ainda nos dias de hoje. E, além disso, são histórias de fé, de resposta de esperança e de amor, coisas que são comuns em todo o mundo independentemente da cultura ou crença.

Você disse à Oprah Winfrey que a cena da crucificação foi a mais intensa, porque?

Por razões óbvias. Não são só cenas física e emocionalmente complicadas e extenuantes, é também o fato de representarem o marco do Cristianismo, o amor extremo de alguém que basicamente mudou o mundo.

Você é português e deve conhecer o livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” do José Saramago, que faz uma narrativa bastante humanizada e pouco idealizada de Jesus e de Deus. Há muita controvérsia histórica a respeito dessa figura. Muitos dizem que ele foi casado com Maria Madalena, outros dizem que ele era apenas uma pessoa esclarecida e revolucionária que questionava os poderosos. Você, que deu vida ao personagem, acha que ele está mais para santo ou mais para humano iluminado?

Tal como respondi anteriormente, não acho essa questão muito relevante. Nem sou a pessoa mais competente para falar do assunto. O que eu posso dizer é que não podemos julgar a mensagem pelo mensageiro. A mim, pouco me importa a divindade de alguém que fez o que Jesus fez por amor, e a mensagem que nos deixou de compaixão pelo próximo, de amor e de esperança e fé. O que me importa é o impacto positivo que isso teve no mundo até os dias de hoje.

Como você reagiu ao fato de a série ter sido indicada ao Emmy?

Não poderia ter ficado mais orgulhoso e acho que foi a forma perfeita de celebrar um projecto que não tem sido outra coisa senão vencedor.

Quais foram as críticas que você recebeu pelo papel? O que os religiosos acharam?

As criticas ao meu trabalho foram muito boas, aliás eu estava à espera, pela natureza deste projecto, que as criticas ao meu trabalho fossem duras, mas não só não foram, como tenho tido ótimas surpresas que têm me deixado muito feliz.
by:  UOL


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