Pelo menos em relação ao filme “Amor Estranho Amor” (1982), que acabei de rever agora, a apresentadora Xuxa deveria, em vez de vãs tentativas de proibição das imagens na Justiça, ter orgulho da fita. Muito orgulho mesmo.
É um belo filme. Capaz de ter deixado o Sigmund Freud, o doutor que ensinou o mundo a explicar o inexplicável do sexo, muito satisfeito.
Um filmaço que faz parte da grande obra de um dos melhores e mais importantes diretores de cinema do país: Walter Hugo Khouri.
Um cara tão bom que era chamado, na buena onda dos amigos, de o Antonioni da Mooca. Lembrar Antonioni, o italiano que figura entre os maiores do mundo, já diz tudo da competência do cineasta paulista.
Na minha lista, o diretor de “Noite Vazia” e “Amor Estranho Amor”é um gênio. Fez com o inconsciente e os desvios do caráter da burguesia o que Glauber Rocha realizou com os sertões e um Brasil em transe. Mesmo nível.
Ninguém melhor do que WHK soube filmar as mulheres. Nelville de Almeida (com o universo de Nelson Rodrigues )é o que mais se aproxima.
A cena polêmica de Tâmara, o personagem fictício de Xuxa –é arte, não é pedofilia, hello, minha gente- é uma das cenas mais antológicas do cinema nacional. Xuxa atua com esmero. O menino Hugo, personagem de Marcelo Ribeiro, idem.
Vê qualquer atentado à moral ou pedofilia no filme é repetir as imbecilidades da inquisição que castigou no passado “Lolita”, o livro de Nabokov que expõe o drama de H.H., um professor de meia idade, com uma menina adolescente.
Xuxa, talvez a sua atuação nesta fita seja a sua maior herança artística. O seu melhor momento. Ali você superou inclusive o preconceito que havia com modelos que atuavam na tevê e no cinema.
É motivo de orgulho, razão para liberar geral e ainda participar, com destemor de um eventual relançamento. Definitivamente não é esta obra que queima o seu filme.
by: folha.com
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