Procurando um nicho musical diferenciado para montar uma banda, José Aparecido de Souza Cristovam, 45, reuniu em Mauá (SP), sua cidade natal, alguns amigos de diferentes religiões e começou a tocar em asilos públicos, hospitais e projetos sociais.
Os palcos filantrópicos de início de carreira renderam aos músicos um nome e uma vertente. Para o baixista e líder do grupo “Mensageiros da Vox”, não havia razão de existir como “mais um conjunto de rock pop tradicional.”
Católico praticante na época, ele sentia necessidade de cantar pelo que chama de “causa maior”, mas sem assumir o rótulo de banda gospel. A tradução de tais desejos e misturas foi denominada por eles de "neogospel".
“Queria passar uma mensagem diferente, de amor, paz e tolerância, mas qualquer letra nessa pegada já é rotulada de música gospel e os músicos, evangélicos. Não é o nosso caso.”, explica Cristovam.
Ecléticos
Para fugir do estigma, ele recrutou católicos, evangélicos, espíritas, budistas – e até um baha´i (religião fundada na Pérsia no século 19,) – dispostos a transformar um grupo musical em trabalho social. Ganharam fama inicialmente fazendo releituras de músicas do mercado secular. A melodia se mantinha, mas as letras ganhavam um novo protagonista: Deus.
“A ideia era quebrar o preconceito com a música religiosa. [Tem] muita gente apelativa demais. Queríamos propor uma batida diferente, mostrar que não é vergonha nenhuma ter sua própria fé.” Ao revisitar canções como “Boa Sorte”, de Vanessa da Mata, o grupo despertou interesse de um público tão eclético religiosamente quanto a banda. “Catequizamos a música secular pra abrir o espaço, hoje fazemos nosso próprio som.”
Com letras doces, a banda toca em locais que tenham alguma necessidade específica. Os shows arrecadam mantimentos e o cachê dos músicos também é destinado à instituição carente. “Falamos de intolerância no trânsito, racismo e desigualdade. Deus está no nosso sentimento, não mais nas letras. Nos shows, o público jovem divide espaço com padres, monges, pastores. Todas as religiões se sentem representadas.”
A espécie de “Play for change” nacional (projeto de um americano que uniu músicos de rua do mundo inteiro com a proposta de cantar para mudar realidades) – já atraiu o interesse de 12 empresas da região que patrocinam e apoiam os músicos em troca do certificado de responsabilidade social.
Pé na tábua
O grupo compôs 12 músicas para o primeiro CD da banda e gravou um DVD no Teatro Municipal de Mauá. O investimento da produção foi custeado pelas empresas que apoiam a iniciativa. Tal elo entre religião, pessoas jurídicas e físicas foi nomeado por eles de “Ciclo do bem”.
“Não teríamos verba pra custear tudo isso. Hoje a banda é formada por 10 integrantes, dos quais seis são músicos, o restante trabalha para nós.”
O trabalho voluntário musical é conciliado com carreiras paralelas. Cristovam é empresário nas horas vagas, e assume o baixo e a liderança da banda agora na maior parte do tempo. A visibilidade começa a deixar de ser restrita à região metropolitana de São Paulo. Uma missionária brasileira da Cruz Vermelha, que vive na França, tenta levá-los ao Festival de Verão de Paris. “Espero que dê certo. A gente nem sonhava em tocar fora do Brasil.”
by.: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário