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domingo, 21 de julho de 2013

Lições de vida do papa

A cada 15 dias, sempre aos domingos, a argentina Clelia Luro espera. Aos 87 anos, com medo de sua audição falhar, ela fica próxima ao telefone e toma cuidado para que o rádio e a TV estejam baixinhos. Esse é o dia em que Jorge, um de seus melhores amigos, liga. Há 13 anos é assim. “Nossas conversas parecem reuniões de trabalho. Difícil fugir de discussões sobre política e religião”, disse ela a ÉPOCA. Eles não se veem desde o domingo 24 de fevereiro, 48 horas antes de Jorge embarcar para Roma.
Eleito papa, o bispo Jorge Bergoglio adotou o nome de Francisco e ainda não conseguiu voltar a Buenos Aires. Mas as ligações não cessaram. Na última, tiveram uma discussão feia. Clelia achou loucura ele ter dispensado o carro blindado para desfilar pelo Rio de Janeiro durante a Jornada da Juventude (leia mais sobre a operação de guerra para proteger o papa). “Disse a ele que tomaria um tiro”, afirma. Ao que o papa respondeu: “Não vou me esconder. Tenho de estar perto das pessoas. Não sou um faraó”.
Clelia conheceu o papa quando ele, como bispo, foi visitar seu segundo marido, Jerónimo Podestá, doente em casa. Podestá também fora bispo e renunciou à Igreja para casar com Clelia, uma teóloga. “Seus pares na Igreja se afastaram. Sofremos todos os tipos de ameaça”, diz ela. Quando Podestá adoe­ceu, o bispo Bergoglio foi visitá-lo em casa e no hospital. “Depois de anos de rejeição, as visitas de Jorge foram um bálsamo para a alma do meu marido”, diz Clelia. “Nos tornamos amigos.”
Essa amizade e a maneira atenciosa como o papa a conduz ilustram três características notáveis de Francisco. Primeiro, mesmo depois de ser papa, ele continua a se comportar como uma pessoa normal. Segundo, ele dá imenso valor às relações humanas. Terceiro, pratica ativamente a tolerância com aqueles que discordam dele, como Clelia.
Na mesma noite em que foi anunciado como papa, em 13 de março deste ano, houve sinais de que Francisco seria diferente de seus antecessores. Surgiu com roupas mais simples. Optou por um anel de prata, no lugar do ouro. Manteve a cruz e os sapatos modestos que sempre usou e dispensou os acessórios papais pomposos. Desde então, tem se confirmado como o papa da simplicidade e da austeridade. Um papa humilde que se preocupa com os humildes.
Seu exemplo é uma força que se espalha rapidamente no interior da Igreja. “Os padres e os seminaristas estão birutas, no bom sentido”, diz o teólogo Fernando Altmayer, professor da PUC de São Paulo. “O modelo anterior de ascensão foi revogado.” Fora da Igreja, católicos e não católicos acompanham com interesse o comportamento de um papa que parece ter muito a ensinar ao homem comum, sobretudo em tempos de crise econômica e moral. A conduta de Francisco sinaliza desapego material, apreço pelas relações humanas e misericórdia – atitudes que ressoam mesmo entre os não religiosos. “Ele funciona por contágio”, diz a jornalista argentina Evangelina Hemitiam, autora da biografia A vida de Francisco, que acaba de ser lançada no Brasil pela editora Objetiva. “O efeito que ele provoca nas pessoas é revolucionário.”
O papa que chega ao Rio de Janeiro nesta segunda-feira, dia 22, é um líder capaz de fazer o país repensar. No Brasil de 2013, que saiu às ruas em protesto contra o descaso de seus governantes, é o homem certo na hora certa. Seu exemplo de humildade e dedicação aos que sofrem, associado ao desprezo por luxo, conforto e privilégio, constitui uma espécie de repreensão silenciosa aos arrogantes que, no poder, agem como se tivessem direito a tudo. O exemplo de Francisco não mudará radicalmente o Brasil e nem tocará o coração de todos os brasileiros. Mas ele é capaz de inspirar e ensinar os que estiverem prontos a ouvi-lo.
1. VIAJE LEVE PELA VIDA 
Evangelina Himitiam, a biógrafa do papa, diz, com certo exagero, que tudo o que ele tem na vida cabe numa mala. São discos, livros, um pôster de seu time do coração – o San Lorenzo, de Buenos Aires – e um crucifixo que ganhou dos avós. Francisco é desapegado, e isso lhe permite, nas palavras dela, “viajar leve pela vida”. Anda a pé, pega transporte público e, quando cardeal, não tinha carro oficial nem motorista. Esse voto de pobreza, diz o teólogo Altmayer, não é algo triste, pelo contrário. “Quem tem pouco é mais livre, mais feliz”, diz. Talvez essa fórmula não valha para todos. Mas ela pode nos ajudar a repensar o materialismo exagerado dos nossos tempos. “O ser humano está sufocado pelo capital material. As pessoas têm sede do capital espiritual”, diz Leonardo Boff, teólogo que acaba de lançar pela editora Mar de Ideais o livro Francisco de Assis e Francisco de Roma. “As mensagens que o papa passa com suas ações fazem sentido para o espírito”, afirma Boff.

2. DÊ IMPORTÂNCIA AOS VALORES
Em lugar do apego aos bens materiais, o papa Francisco tem valores. Desde a infância, sua biografia está repleta de elementos que demonstram isso. Ele começou a trabalhar aos 12 anos, porque seu pai considerava o trabalho essencial. Guardou isso com ele. Música e literatura também são paixões precoces que ele cultiva até hoje, como elemento essencial da existência. Da ética religiosa dos jesuítas, a ordem religiosa a que Francisco pertence, extraiu a decisão de levar uma vida modesta, dedicada aos necessitados. Ele acredita que ajudar os pobres enriquece objetivamente a vida das pessoas. Nem todos estão dispostos a viver assim, movidos pelo senso de missão e pela arte, mas o exemplo de Francisco deixa claro que um punhado de convicções, gostos e atitudes simples podem, muitas vezes, ser mais importantes que um vasto patrimônio. Ao longo da vida, somos capazes de guardar coisas mais valiosas que os nossos bens.
by: Época

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